Para muitos de nós, o Orkut já é uma realidade distante. Para outros, ainda é uma vergonha presente. Sinônimo de ‘má qualidade’ de rede social, o Orkut virou verbo e adjetivo. Orkutizar e Orkutizado são duas coisas que não queremos que aconteça/seja a rede social que usamos.

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perfil do Orkut no Orkut (clique para ampliar) |
O Orkut propunha uma interação, de certa forma, simples. Cada pessoa tinha sua própria página com poucas opções de personalização, espaço para 12 mirradas fotos, alguma informação “sobre mim”, e espaços dedicados para que você falasse sua preferência sobre músicas, tevê, cinema, livros, comidas preferidas, atividades, esportes e paixões. Ainda era possível também inserir informações como orientação sexual, humor, estilo, visão política, visão religiosa, animais de estimação, filhos, etnia. Praticamente uma ficha cadastral de emprego.
As pessoas, com suas páginas individuais, adicionavam outras pessoas, amigos, para manter contato. Este contato era realizado através de recados, escritos no Scrapbook do outro, mais tarde apelidado somente de scrap.

Aí estava a socialização, onde você poderia dar sua opinião, ser lido, ouvir outras opiniões e conhecer novas pessoas, dividindo pessoas por assunto e fazendo com que você encontrasse quem tivesse algo em comum com você. Sem um sistema de busca adequado, o mIRC não facilitava que você encontrasse os locais em que as pessoas se reuniam.
Outras coisas interessantes do Orkut, que já vinham na ‘versão de fábrica’ ou que foram adicionadas com o passar do tempo, eram: a possibilidade de deixar um “depoimento” sobre os amigos, geralmente uma declaração de amor ou amizade, mas que funcionaria como uma “carta de recomendação” para as outras pessoas que estivessem interessadas em se tornar amigo daquela; a possibilidade de marcar ou ser marcado como fã de alguém; enquetes nas comunidades; (nossa primeira experiência com) a possibilidade de marcar um amigo numa foto; dentre outros.
O Orkut era realmente uma coisa muito legal de se fazer, especialmente para quem costumava participar dos fóruns nas comunidades – onde se compartilhava uma infinidade de conteúdo e debates.
Vivemos muita coisa legal no Orkut. Vimos ele se transformar e se aprimorar a cada dia; passamos, juntos dele, por toda a sua evolução, e isso nos fez sentir parte do amadurecimento daquela ferramenta que usávamos todo dia, às vezes o dia todo.
Mas, afinal, o que aconteceu com o Orkut?
Bem. Nós acontecemos. O Brasil e o mundo cresceram. Os computadores baixaram de preço e pessoas que antes não tinham acesso à tecnologia, passaram à utilizar as redes sociais.
Não! Eu não estou dizendo que a população de baixa renda estragou/estraga “nossa” internet! Primeiro, porque a internet é de todo mundo e segundo, porque eu tenho responsabilidade jurídica e, vamos e convenhamos, eu jamais falaria isso aqui, mesmo que eu achasse.
Nós! Nós acontecemos. O excesso de pessoas utilizando a mesma ferramenta. Comportamento Social, onde, em sociedade (mesmo que virtual) costumamos agir de forma inconsequente, que o nosso superego não permitira. Aí, então, agimos de forma autodestrutiva e estragamos o Orkut e seu nome.
Encorajados pela massa, criamos comunidades que fugiam da ideia inicial de comunidade, que era reunir pessoas em torno de um mesmo assunto, para ser discutido; usamos as ferramentas do Orkut de forma egoísta e antissocial, marcando todo mundo na foto de um evento qualquer, ou num scrap qualquer; saímos escrevendo asneiras e ofensas em um lugar onde todos podem nos ler – diferente do Facebook, onde somente nossos amigos leem, se quiser, as asneiras que falamos. Enfim, arruinamos com a reputação da rede social.

Claro, não vou tirar um pouquinho da responsabilidade dos desenvolvedores. Tal qual aconteceu com muitas redes sociais por aí, a falta de atenção, a falta de objetivo, e o excesso de recursos acabaram desvirtuando para o que o Orkut tinha sido criado, tornando-o numa ferramenta muitíssimo personalizável, o que liberaria as possibilidades de estragarmos ainda mais uma coisa que nos distraiu por tanto tempo.
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nova interface do Orkut |
Mas, acho eu que, o maior defeito do Orkut, além do excesso de personalização, foi a falta de facilidade para a filtragem do conteúdo. O Facebook, inclusivo, vem sofrendo com isso, apesar de estar insistentemente a evitar uma catástrofe nesse sentido – o que torna as configurações de privacidade um inferno sem fim.
Quando falamos de Orkutização do Facebook ou do Twitter ou da rede social que seja, estamos falando que aquela rede em específico vêm colocando na tela do meu computador/tablet/notebook/netbook/ultrabook/chromebook/macbook/oescambaubook conteúdo que não me interessa e que eu não posso filtrar.

A conclusão que tiramos disso tudo é de que a possibilidade de filtragem de conteúdo é importante para a sobrevivência de uma rede social, visto até que ela se torna necessária para o uso daquela rede pelas nossas crianças – acontecimento, este, que não podemos evitar, uma vez que a internet está presente em nossas vidas cada vez mais cedo.